A música é arquitetura líquida; a arquitetura é música petrificada.
Johann Wolfgang von Goethe
O trabalho explora a interseção de duas linguagens — arquitetura e música — explicitando os seus pontos de tangência. Primeiramente, num foco mais panorâmico, procurando exemplos significativos que vinculam arquitetura, música, matemática e harmonia.
Seguidamente, ao estabelecer um método compositivo arquitetónico/musical para a tradução de uma mídia/arte para a outra utilizando a matemática como ponte. Central, é o desenvolvimento das bases para a criação de uma ferramenta de desenho/análise: uma interface gráfica/musical projetada para criar formas espaciais bidimensionais, onde os objetos gráficos se relacionam diretamente com as dimensões dos elementos musicais (como intervalos, duração, tempo, entre outros). Que permita, a arquitetos (no nosso particular), compor música e reproduzi-la através dos desenhos das suas composições gráficas arquitetónicas e a músicos, criar e modificar formas e espaços através do seu input musical – a arquitetura da música e a música da arquitetura.
Como hipótese, inicia-se a metamorfose de músicas (na qual se encontram presente relações estéticas aprazíveis – a presença da razão áurea na relação dos intervalos ou distância entre as notas) em fachadas de edifícios, e de fachadas de edifícios (de iguais preocupações) para música. Uma visão ordenada mediante um conjunto de operadores com o objetivo de descobrir o modelo estrutural que possa fornecer ao pensamento a capacidade de se analisar a si mesmo.
Esperançosamente a ‘arquitetura musical’ produzirá um novo sentido de local para pensar e se tornará num lugar diferente, que estava sempre no ar para que alguém notasse, como o silêncio.
Arquitetura para Música:
Como exemplo usou-se o Convento Dominicano de L’Arbresle, perto de Lyon, confiado a Le Corbusier em 1953. Pela primeira vez desde que faz parte do estúdio,Iannis Xenakis assumiu total responsabilidade pela arquitetura e tornou-se chefe do projeto. Embora a forma geral venha da mão de Le Corbusier – e seja hoje um dos melhores exemplos da arquitetura brutalista – Xenakis colocou a sua assinatura em vários dos seus elementos. Desenvolvendo a estrutura interna e a circulação, e implementando e desenvolvendo os ‘painéis de vidro ondulados’ nas fachadas do convento.
Secção A:
Aplicando assim o sistema – do lado esquerdo a fachada da secção A e do lado direito a partitura da música obtida através da relação intervalar da dimensão dos elementos da fachada
Os Videos iniciam-se com a visualização pelo interior do edifício contendo dois tipos de solução de fachada (Secção A e Secção B) que ilustram dois tipos diferenciados de solução, ambos contendo as medidas do modulor e consequentemente os intervalos anteriormente discutidos. Depois de análise e cálculo dos intervalos (dos excertos considerados para exemplo como ‘Secção A e B’) encontrou-se as proporções entre os elementos constituintes representados na figura. Considerou-se para a secção A, a relação entre os elementos apresentados horizontalmente e para a Secção B a relação entre os elementos verticais. As secções apresentadas têm três níveis distintos, que consecutivamente constituem – através da relação dos seus intervalos – uma melodia. Optou-se pela reprodução simultânea dos três níveis/acontecimentos à semelhança do que ocorre com o olhar (no ato de percecionar), e desse modo, o conjunto das melodias forma um resultado harmónico. O resultado intervalar foi então executado em piano (em três regiões diferentes do teclado) e pode ser ouvido nos seguintes videos:
Secção B:
Música para Arquitetura:
A música é geometria transportada ao mundo dos sons, e as mesmas harmonias que são audíveis na música formarão a geometria do prédio.
Exemplo Primeiro Sinfonia nº5 em Dó Menor – Ludwig Van Betthoven
Tenha-se como primeiro exemplo a Sinfonia nº5 em Dó Menor, O.P. 67 de Ludwig Van Beethoven (escrita entre 1804 e 1808) uma das mais populares composições da música erudita (na qual se encontram presentes princípios da razão áurea ), iniciando-se com uma breve introdução, onde se ouve o primeiro tema nas cordas (o tão reconhecido motivo de quatro notas) sendo elaborado a partir desse motivo por toda a obra .
Para tal considerou-se um excerto da sinfonia para violino correspondente ao seu início, os primeiros 21 compassos:
O gráfico seguinte é o resultado visual (auxiliar entre a partitura e a fachada) encontrado na transposição dos intervalos entre as notas da composição musical apresentada na partitura. O primeiro intervalo foi obtido através da distância presente entre a tonalidade da composição (Dó menor / Cm) e a primeira nota da música que no exemplo em questão equivale a um Sol (G), e desse momento até ao fim da composição em relação umas a outras. Os números representados no gráfico servem como auxílio, correspondendo aos compassos da partitura. Neste caso procedeu-se ao encontro dos intervalos entre as notas contidas nos 21 compassos. A partir deste momento resolveu-se, como opção criativa para o passo seguinte da metamorfose, abdicar das diferenças proporcionais relativas às alturas (Y) e atribuir um valor de altura fixo para todos os elementos obtidos, esta escolha não modifica o carácter matemático dos intervalos, embora seja preciso considerar que devido a se fazer uso dos mínimos números inteiros contidos em cada intervalo (no hipotético caso de se desejar reverter o sistema, neste caso, transformar o gráfico da figura 25 novamente para música) que existem duas proporções coincidentes no valor de (X) sendo estas: o intervalo de 2º menor (15:16) e de 7ºmenor (9:16) e o intervalo de 3º (4:5) e 6º (3:5).
Através deste processo obtém-se assim um Modelo, o arquétipo de um edifício, uma representação que pretende ser simultaneamente abstrata e concreta.
Chamou-se a este resultado uma “fachada melódica”: