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Press | Entrevista GERADOR

October 30, 2016

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http://gerador.eu/os-sentidos-da-musica-3/

“Iggy Pop – Some weird sin e Lust for life , como banda sonora do despertar. Essas músicas não me fazem acordar para existir, fazem-me levantar para viver. Embora não seja claro em que ordem é que isto se sucede! De resto, até com o blues danço. Paradoxalmente, só não sinto o mesmo com a música de dança.”
Espreite aqui a conversa da Ana Isabel Fernandes com o músico Luís Formiga, em mais um Os Sentidos da Música.

“Penso que não somos assim tão diferentes uns dos outros. Não há ninguém que nos seja mais estranho que nós mesmos. Tudo o que fazemos/vivemos acaba por conter alguma universalidade e, dessa forma, torna-se relacionável”.

Dois anos volvidos desde a entrevista com a Ana Isabel para o DN (http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=3131949), que então, antecipava o lançamento do “Subnutridos”, voltámos a conversar, eis o resultado.

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Entrevista no Delfos sobre o álbum “Subnutridos” pela Ana Isabel:
https://delfosaprofeciadasartes.wordpress.com/2015/05/21/entrevistaluis-formiga/

“Há adivinhas nas sombras, devias escutá-las também.” Canta-nos Luís Formiga em ‘O Teu Deus’, um dos 12 temas do seu primeiro Longa Duração, ‘Subnutridos’, laçado em junho do ano passado. Embora certas sombras estejam longe de histrionismo banais ou luzes florescentes, tal não significa que não encerrem mundos em si, mundos que nos passam ao lado pelo imediatismo decorrente das primeiras impressões ou pelas nossas distrações avessas. A meu ver, e escrevo apenas tendo em conta a minha própria perceção do que escutei, ‘Subnutridos’ tenta chamar a atenção para esses mundos esquecidos que a todos nós nos custa a ver , anteriores à nossa imagem e que, afinal, transportam com peso uma grande parte da nossa condição humana. Curioso que seja isso mesmo que nos permita escutar algo que nos soa completamente visceral e íntimo para nos transportar para outras histórias com pessoas dentro, como que a relembrar-nos que somos feitos da mesma pele, do mesmo sangue e dos mesmos ossos. A subtileza e acalmia da música coexiste com o peso inerente das letras que focam fraquezas, fragilidades, sobretudo as fragilidades daquilo que procuramos e nos falta. Qual a força da nossa fraqueza refletida no espelho? Qual o peso da fraqueza de não se ‘ saber desistir das flores’? Para além de ‘Subnutridos’, Luís Formiga já nos havia presenteado em 2011 e 2012, respetivamente, com os Ep´s ‘Luís Formiga’ e ‘Dois Depois’. Tem novos projetos na manga, um novo álbum e uma peça que engloba texto, música e ilustração, ‘A Ópera de um homem só’. Há dias concedeu-me uma entrevista por e-mail e, sem mais demoras vãs, vejam o resultado que vale a pena. “Vou tentando não falar muito alto e talvez seja mais difícil chegar a um maior número de pessoas dessa forma, mas esforço-me por fazer sempre a coisa pela coisa, e ficar de braços abertos para o que acontecer. Aí, talvez, se alguém passar por perto e me ouvir, fique um pouco”, contou-me.

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Entrevista no Espalha Factos sobre o álbum “Subnutridos” pela querida Alexandra Correia Silva:
http://www.espalhafactos.com/2015/03/14/entrevista-luis-formiga-subnutridos/

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As contrições de um comum mortal
por Manuel A. Fernandes.

“Anybody can be specific and obvious. That’s always been the easy way. It’s not that it’s so difficult to be unspecific and less obvious; it’s just that there’s nothing, absolutely nothing, to be specific and obvious about.” Quando Robert Zimmerman proferiu estas palavras à estação da rádio canadiana CBC, numa entrevista de1966, pouco ciente estaria do legado que deixou e da bandeira, irrevogavelmente rejeitada, que representou para uma geração. Vamos colocar as coisas nestes termos, Bob Dylan num mundo justo seria uma cadeira semestral de um qualquer curso de composição musical ou escrita criativa. E desde logo, a referência central sobre escrever o tudo e o nada com reinterpretações constantes da vida que é a estrada entre esses dois pólos. Por muito que se tente separar esta longa caminhada versada pelo cancioneiro de Townes Van Zandt, Woody Guthrie, Donovan e o casal Fariña, os trilhos partem de uma pedra rolante e vão desaguar a outras culturas, ambientes distintos, novos dogmas musicais. Luís Formiga é essa identidade artística que vai recolhendo várias fases e impressões da escola folk anglo-saxónica com o bossa nova do Chico e do Vinicius, dos trovadores malditos como Leonard Cohen e da chanson francaise de Gainsbourg e Brassens, inculcando um novo espírito, uma marca distintiva e sui generis na forma como encara as suas próprias histórias.

Estes dois Ep’s (Dois Depois/Luís Formiga) são duas fracções de uma saga que se vai socorrendo da palavra e do condutor verbal intuitivo das viagens de Luís. Editados com um intervalo de diferença de um ano, estes dois diários de bordo reflectem claramente a procura de um artista em convulsão criativa e no meio de um turbilhão de interessantes ideias por arrumar. Uma sensibilidade e timidez latentes que se alicerçam num acústico de fundo, uma harmónica e um contrabaixo suave e corpulento, para num acto confessional debitar frustrações, mundividências e esperanças pessoais naquele “quarto 203”. Músicas de quem vive em dias de chuva e uma auto-estima que nunca encontrou bom reflexo nos espelhos. Face intimista quase auto-biográfica, com elementos universais da nostalgia e fragilidade humana como versam as linhas de “Agora Sapato”. “Caminhar é um exercício de Deus, correr, tropeçar com dignidade. Há quem confunda informação com verdade, há até quem pense que saúde é felicidade”, na melhor faixa composta por este jovem músico, revela-nos uma astuta e sapiente leitura de um quotidiano ocidental, arrumadinho e escalado por objectivos, numa poesia de trote fácil e que quase se confunde com um grito de revolta rebelde e incompreendido. A faixa inaugural de “Dois Depois”, marca uma evolução estética, assim que a guitarra dedilhada de “Litost” acompanha a angústia e a penitência de um romance falhado e de promessas vãs por um passado de chagas, a braços com a pesada herança do arrependimento.

Não esperem entretenimento, risadas vazias e letras em vácuo. Aquele que se descreve como “caçador de cerejas e tempestades” há-de continuar a trocar os v’s pelos b’s e a levar a sua música com gente dentro, na catarse do tempo. Expurgando os seus demónios numa terapia diáfana, para nos relembrar que mesmo no recanto mais negro da nossa alma se pode vislumbrar a beleza que reside entre notas e palavras.

Para Ouvir:
luisformiga.bancamp.com
facebook.com/luisformigamusic

Texto por:
Manuel A. Fernandes (jornalista)
manuel.a.fernandes@rockrolaembarcelos.com