A minha dissertação — Arquitectura e Música: Perspectivas Metamórficas sobre Harmonia e Ordem — foi seleccionada para integrar o Yearbook Archiprix Portugal 2025, publicação que reúne alguns dos mais notáveis projectos de mestrado nas áreas da Arquitectura, Urbanismo e Arquitectura Paisagista em Portugal.
Este trabalho desenvolve um sistema de metamorfose entre composição musical e forma arquitectónica, explorando a possibilidade de traduzir sons em estruturas visuais e fachadas em partituras. Através de proporções harmónicas, mapas gráficos e categorias como melodia, silêncio, ritmo e dimensão, propõe-se uma arquitectura que se compõe como música — e uma música que se desenha como espaço.
A música é arquitetura líquida; a arquitetura é música petrificada. Johann Wolfgang von Goethe
O trabalho explora a interseção de duas linguagens — arquitetura e música — explicitando os seus pontos de tangência. Primeiramente, num foco mais panorâmico, procurando exemplos significativos que vinculam arquitetura, música, matemática e harmonia.
Seguidamente, ao estabelecer um método compositivo arquitetónico/musical para a tradução de uma mídia/arte para a outra utilizando a matemática como ponte. Central, é o desenvolvimento das bases para a criação de uma ferramenta de desenho/análise: uma interface gráfica/musical projetada para criar formas espaciais bidimensionais, onde os objetos gráficos se relacionam diretamente com as dimensões dos elementos musicais (como intervalos, duração, tempo, entre outros). Que permita, a arquitetos (no nosso particular), compor música e reproduzi-la através dos desenhos das suas composições gráficas arquitetónicas e a músicos, criar e modificar formas e espaços através do seu input musical – a arquitetura da música e a música da arquitetura.
Como hipótese, inicia-se a metamorfose de músicas (na qual se encontram presente relações estéticas aprazíveis – a presença da razão áurea na relação dos intervalos ou distância entre as notas) em fachadas de edifícios, e de fachadas de edifícios (de iguais preocupações) para música. Uma visão ordenada mediante um conjunto de operadores com o objetivo de descobrir o modelo estrutural que possa fornecer ao pensamento a capacidade de se analisar a si mesmo.
Esperançosamente a ‘arquitetura musical’ produzirá um novo sentido de local para pensar e se tornará num lugar diferente, que estava sempre no ar para que alguém notasse, como o silêncio.
Arquitetura para Música:
Como exemplo usou-se o Convento Dominicano de L’Arbresle, perto de Lyon, confiado a Le Corbusier em 1953. Pela primeira vez desde que faz parte do estúdio,Iannis Xenakis assumiu total responsabilidade pela arquitetura e tornou-se chefe do projeto. Embora a forma geral venha da mão de Le Corbusier – e seja hoje um dos melhores exemplos da arquitetura brutalista – Xenakis colocou a sua assinatura em vários dos seus elementos. Desenvolvendo a estrutura interna e a circulação, e implementando e desenvolvendo os ‘painéis de vidro ondulados’ nas fachadas do convento.
Secção A:
Aplicando assim o sistema – do lado esquerdo a fachada da secção A e do lado direito a partitura da música obtida através da relação intervalar da dimensão dos elementos da fachada
Os Videos iniciam-se com a visualização pelo interior do edifício contendo dois tipos de solução de fachada (Secção A e Secção B) que ilustram dois tipos diferenciados de solução, ambos contendo as medidas do modulor e consequentemente os intervalos anteriormente discutidos. Depois de análise e cálculo dos intervalos (dos excertos considerados para exemplo como ‘Secção A e B’) encontrou-se as proporções entre os elementos constituintes representados na figura. Considerou-se para a secção A, a relação entre os elementos apresentados horizontalmente e para a Secção B a relação entre os elementos verticais. As secções apresentadas têm três níveis distintos, que consecutivamente constituem – através da relação dos seus intervalos – uma melodia. Optou-se pela reprodução simultânea dos três níveis/acontecimentos à semelhança do que ocorre com o olhar (no ato de percecionar), e desse modo, o conjunto das melodias forma um resultado harmónico. O resultado intervalar foi então executado em piano (em três regiões diferentes do teclado) e pode ser ouvido nos seguintes videos:
Secção B:
Música para Arquitetura:
A música é geometria transportada ao mundo dos sons, e as mesmas harmonias que são audíveis na música formarão a geometria do prédio.
Exemplo Primeiro Sinfonia nº5 emDó Menor – Ludwig Van Betthoven
Tenha-se como primeiro exemplo a Sinfonia nº5 em Dó Menor, O.P. 67 de Ludwig Van Beethoven (escrita entre 1804 e 1808) uma das mais populares composições da música erudita (na qual se encontram presentes princípios da razão áurea ), iniciando-se com uma breve introdução, onde se ouve o primeiro tema nas cordas (o tão reconhecido motivo de quatro notas) sendo elaborado a partir desse motivo por toda a obra .
Para tal considerou-se um excerto da sinfonia para violino correspondente ao seu início, os primeiros 21 compassos:
O gráfico seguinte é o resultado visual (auxiliar entre a partitura e a fachada) encontrado na transposição dos intervalos entre as notas da composição musical apresentada na partitura. O primeiro intervalo foi obtido através da distância presente entre a tonalidade da composição (Dó menor / Cm) e a primeira nota da música que no exemplo em questão equivale a um Sol (G), e desse momento até ao fim da composição em relação umas a outras. Os números representados no gráfico servem como auxílio, correspondendo aos compassos da partitura. Neste caso procedeu-se ao encontro dos intervalos entre as notas contidas nos 21 compassos. A partir deste momento resolveu-se, como opção criativa para o passo seguinte da metamorfose, abdicar das diferenças proporcionais relativas às alturas (Y) e atribuir um valor de altura fixo para todos os elementos obtidos, esta escolha não modifica o carácter matemático dos intervalos, embora seja preciso considerar que devido a se fazer uso dos mínimos números inteiros contidos em cada intervalo (no hipotético caso de se desejar reverter o sistema, neste caso, transformar o gráfico da figura 25 novamente para música) que existem duas proporções coincidentes no valor de (X) sendo estas: o intervalo de 2º menor (15:16) e de 7ºmenor (9:16) e o intervalo de 3º (4:5) e 6º (3:5).
Através deste processo obtém-se assim um Modelo, o arquétipo de um edifício, uma representação que pretende ser simultaneamente abstrata e concreta.
Chamou-se a este resultado uma “fachada melódica”:
Sabes companheiro, hoje acordei numa inquietude diferente,
Saí à rua para merecer, vestido de vencer.
Mas não havia nada para mim naquele lugar
Foi só mais uma tentativa de me abandonar.
Olho-te companheiro, tu que tens vencido tanto,
Nunca me lembro que só é vencedor que não tem medo de ganhar.
Nem o anseio assim tanto, mas vou a meio do caminho
E tu pareces ter as tuas coisas todas no lugar.
Ontem olhei-me ao espelho, o idiota do outro lado disse
Estás demasiado exausto para te importares com a felicidade?
É a melodia da minha fraqueza, não (saber) desistir das flores
Sou o que me falta.
Sabes companheiro, tenho tentado colocar-me no teu lugar,
Ás vezes esqueço-me que até tu, juntaste uma lágrima às tentações.
Enquanto a música te chegava aos poucos
como se alguém explicasse algo entre os refrões.
Perder o hábito de viver antes de ganhar o de pensar
E porque se transformou nele mesmo o mundo fugiu-me
Sabes companheiro que se foda esta vida,
Enquanto é a minha que lamento, e essa mesma que alimento.
Ontem olhei-me ao espelho o idiota do outro lado disse
Estás demasiado exausto para te importares com a felicidade?
Não desistir das flores, é a melodia da minha fraqueza
Sou o que me falta
Entre encontros e alguns copos de wisky fizemos umas gravações ao vivo. Esta é a primeira, as músicas, com novos arranjos, são do álbum Subnutridos.
O Jorge Pandeirada está no moog, piano e vozes, o Micael Lourenço nos pads e o Edward Alves a existir naquele esplendor habitual.
Desculpa Noite
(letra)
Devia ter percebido pelo tom daquele olá que vinhas para me fazer mal
Entre o ocaso e o triunfo de uma lua palidamente desanimada
Uma criança não pode viver assim, acordada, descontrolada
Ai eu sei lá o que é o amor
Ai eu sei lá se sei, o que é o amor.
O passado é só glória mal lembrada, o futuro, miséria declarada
E era tão fácil perceber que a canoa andava em círculos porque um de nós não remava
Amores que duram deixam os amantes tão exaustos
Desculpa noite, mas nós não podemos ser amigos, tu não me fazes bem.
Potencial não é realidade, se calhar sabia, a comida não descia, não cabia
Pendura-nos numa moldura, talvez te dê a recordação
Bela que cessas nos lençóis da manhã, embrulhada no sorriso da despreocupação
A aspirar viver em contratempo, por entre as batidas da solidão.
A fragilidade é medidor de coragem e berço da criação
Vou saber perder-te como um vencedor
Ai eu sei lá o que é o amor
Ai eu sei lá se sei, o que é o amor
Desculpa noite, mas nós não podemos ser amigos, tu não me fazes bem
Melodia da fraqueza
(letra)
Sabes companheiro, hoje acordei numa inquietude diferente,
Saí à rua para merecer, vestido de vencer.
Mas não havia nada para mim naquele lugar
Foi só mais uma tentativa de me abandonar.
Olho-te companheiro, tu que tens vencido tanto,
Nunca me lembro que só é vencedor que não tem medo de ganhar.
Nem o anseio assim tanto, mas vou a meio do caminho
E tu pareces ter as tuas coisas todas no lugar.
Ontem olhei-me ao espelho, o idiota do outro lado disse
Estás demasiado exausto para te importares com a felicidade?
É a melodia da minha fraqueza, não (saber) desistir das flores
Sou o que me falta.
Sabes companheiro, tenho tentado colocar-me no teu lugar,
Ás vezes esqueço-me que até tu, juntaste uma lágrima às tentações.
Enquanto a música te chegava aos poucos
como se alguém explicasse algo entre os refrões.
Perder o hábito de viver antes de ganhar o de pensar
E porque se transformou nele mesmo o mundo fugiu-me
Sabes companheiro que se foda esta vida,
Enquanto é a minha que lamento, e essa mesma que alimento.
Ontem olhei-me ao espelho o idiota do outro lado disse
Estás demasiado exausto para te importares com a felicidade?
Não desistir das flores, é a melodia da minha fraqueza
Sou o que me falta
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Luís Formiga – Voz e Guitarra
Jorge Pandeirada – Voz, Piano e Moog
Micael Lourenço – Pad
Edward Alves – Moog
Entre encontros e alguns copos de wisky fizemos umas gravações ao vivo com a banda, esta é a primeira, a música é tirada do álbum subnutridos com novos arranjos.
O Jorge Pandeirada está no moog e nas vozes, o Micael Lourenço nos pads e o Edward Alves a existir naquele esplendor habitual.
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Luis Formiga e Cabaret Malícia – Desculpa Noite (letra)
Devia ter percebido pelo tom daquele olá que vinhas para me fazer mal
Entre o ocaso e o triunfo de uma lua palidamente desanimada
Uma criança não pode viver assim, acordada, descontrolada
Ai eu sei lá o que é o amor
Ai eu sei lá se sei, o que é o amor.
O passado é só glória mal lembrada, o futuro, miséria declarada
E era tão fácil perceber que a canoa andava em círculos porque um de nós não remava
Amores que duram deixam os amantes tão exaustos
Desculpa noite, mas nós não podemos ser amigos, tu não me fazes bem.
Potencial não é realidade, se calhar sabia, a comida não descia, não cabia
Pendura-nos numa moldura, talvez te dê a recordação
Bela que cessas nos lençóis da manhã, embrulhada no sorriso da despreocupação
A aspirar viver em contratempo, por entre as batidas da solidão.
A fragilidade é medidor de coragem e berço da criação
Vou saber perder-te como um vencedor
Ai eu sei lá o que é o amor
Ai eu sei lá se sei, o que é o amor
Desculpa noite, mas nós não podemos ser amigos, tu não me fazes bem